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Depressão na adolescência

Diversos fatores tornam a depressão mais comum entre adolescentes atualmente - desde efeitos da pandemia até redes sociais.

 

Ana Marina Briceño - É muito difícil dar uma só razão, porque é um fenômeno multicausal, com vários elementos.

Vimos empiricamente que a pandemia foi muito complexa para os adolescentes, e uma hipótese é que privá-los da interação social em uma idade-chave disso foi algo complexo. Mas o aumento dos casos de depressão começou desde antes da pandemia.

Há evidências associadas às redes sociais, de como a permanente comparação dos jovens com outros - tanto sua vida como seus corpos - aumenta problemas relacionados ao ânimo e à ansiedade.

Vale lembrar que sempre se questiona se a sociedade está hoje mais capaz de ver esses problemas, que antes provavelmente ficavam mais ocultos.

BBC - Se fala também de que esta é uma "geração deprimida", com cada vez mais uso de antidepressivos e frequência a terapias.

Briceño - Sim, há quem ache que esta geração é uma das que cresceram mais solitárias, porque seus pais também estão enfiados nas redes sociais, fazendo sua vida, e não estão emocionalmente disponíveis para os filhos.

Além disso, criou-se foco em uma falsa felicidade, em que se dá aos filhos tudo o que eles pedem, para não frustrá-los, fazendo com que não tenham ferramentas para lidar com a frustração. A criação mudou. Não se trata de culpar uma ou outra pessoa; são contextos culturais distintos.

BBC - Como identificar que um adolescente sofre de depressão?

Briceño - É o mais difícil. Nós, pais, por um lado tentamos entender o que acontece com nossos filhos usando como explicação a própria adolescência. Então é muito fácil que façamos um diagnóstico errado. E, por outro lado, os jovens ativamente ocultam seus sintomas, ou porque não querem dar problemas ou por medo.

Eu diria que o importante é estarmos atentos a mudanças de comportamento. Mas não mudanças de um ou dois dias, que são transitórias e próprias da adolescência, mas sim as mudanças que vão além de uma ou duas semanas.

É preciso ver também se essas mudanças ocorrem em mais de um ambiente - não só em casa, mas também na escola ou com os amigos. Se o adolescente, por exemplo, abandona seus interesses, e isso abarca diferentes áreas, é preciso dar atenção e provavelmente pedir ajuda.

BBC - E quais são os sintomas mais comuns?

Briceño Se espera que alguém depressivo não tenha ânimo, não se levante… Mas às vezes sim, se levantam, são capazes de ir a uma festa, mas estão irritáveis durante a maior parte do dia. E muitas pessoas não sabem que a irritabilidade também é um sintoma da depressão. É muito fácil confundi-la com a adolescência, por questões hormonais.

BBC - E como prevenir?

Briceño - Primeiro, é preciso ter claro que não é aplicando todas as medidas preventivas que vamos assegurar que um adolescente não se deprima. A ideia é poder diminuir os riscos, mas não há risco zero.

Há muitos elementos práticos a se cultivar com crianças pequenas, como hábitos de sono, refeições em família, estímulo a atividades físicas ou extracurriculares. Também ajudam a luz do sol, a vitamina D, passar tempo longe das telas, na natureza.

E talvez normalizar o pedido de ajuda - poder falar de seus problemas. Saber que às vezes há dias ruins, e está tudo bem com isso. Por último, acho que é importante acompanhar as crianças e jovens no mundo virtual. É comum que eles ganhem tablets e que seus pais não saibam o que acontece ali.

É como mandá-los ao parquinho sem supervisioná-los. É preciso conversar sobre o mundo virtual, seus perigos, o que não se deve fazer, o ciber-bullying etc.

BBC - E o que os pais podem fazer para ajudar filhos com algum transtorno de saúde mental?

Briceño - A primeira medida, muito importante, é procurar ajuda profissional. É uma doença - e se nosso filho estivesse com apendicite, não pensaríamos em tratá-lo em casa. Mas, dito isso, há coisas que devemos levar em conta para não criar problemas: por exemplo, quando a atitude dos pais é de pouca compreensão ou empatia, e eles veem isso (a depressão) como uma debilidade, sem entender que poderia acontecer com qualquer um. Ninguém está livre.

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